Outro dia deparei-me novamente com este texto e a mensagem do livro me pareceu cada vez mais atual. De uma leitura impressionante, unindo a análise da sociedade humana à síntese do futuro da espécie, lembro-me de ter lido o livro ávidamente.
Seja para quem gosta de ler pura e simplesmente, para aqueles que dão um passo além e imaginam o futuro da humanidade, ou se preocupam com ele, resolvi publicar a mesma resenha aqui, como leitura recomendada.
Hominescências (Resenha) | ||||||||
Hominescências é uma visão da história do homem em relação aos meios em que vive e sua interação com o mundo, sua cultura e sociedade, as forças que impulsionam às mudanças e aos comportamentos, à evolução e à plasticidade deste ser que aprendeu a dominar as espécies e controlar o mundo, criatura emergente e resultante de sua própria dominação no planeta. O caminho deste homem se escreveu e se escreve em sua própria intensidade e desejo de vida pelo conhecimento da morte.
“A expectativa da morte conduz ao ímpeto da vida” diz Serres. Dizendo cientificamente o que Paulo Coelho disse ter vivido experimentalmente em seu livro "O alquimista".
Dotado de vasto saber e imensa cultura, Michel Serres descortina perante nossos olhos uma análise global da situação humana nas várias dimensões da vida e das ciências: existência, espiritualidade, cultura, economia, política, biologia, genética, tecnologias. De forma transparente nos faz refletir sobre a vasta condição humana.
“Estamos no limiar de nossa civilização”. Após reconstruir a seu próprio corpo geneticamente, criando sua própria evolução, através das ciências e das técnicas, após recriar a vida no planeta, manipular a fauna, a flora e toda a paisagem, o homem agora precisa urgentemente reinventar-se com valores éticos e reconstruir todas suas culturas e filosofias. Assim nos faz enxergar Serres em seus insights desconcertantes, revelando sínteses da situação humana atual e passada, desenhando e projetando um futuro de escolhas que hoje recai sobre cada um de nós, ao pensarmos globalmente e agirmos localmente.
A intervenção humana causou a fragilidade das espécies, plantas e animais, hoje organismos geneticamente modificados, ontem seres modificados através de cruzamentos e seleções, que carregamos conosco domesticadas e das quais nos alimentamos, e quanto mais protegemos, mais frágeis se tornam.
A capacidade humana de observação aumentou-se fantasticamente ao incorporarmos aparelhos que imitam capacidades de outros seres vivos, como o radar, sonar, leitura térmica. Nossas faculdades aumentaram. “O saber disseminou-se. Para quê bibliotecas se temos a internet ? A coletividade invadiu o indivíduo. O novo humanismo se faz do poder que adquirimos de acesso ao global. A relação precede a existência”. Estas são máximas de Serres que nos faz grudar os olhos em Hominescências até a última página.
Embora fazendo desfilar diante nós a obscuridade humana refletida em poder e violência, molas mestras na estória e cultura da humanidade, somos invadidos em Hominescências pela reflexão que “TODA GUERRA OCORRE SOBRE A TERRA” e somos alertados de que a decadência evolutiva pretende nos identificar à sociedades de insetos, à morte do indivíduo e à supremacia da coletividade. Ao mesmo tempo, Hominescências nos leva a refletir sobre nossas escolhas e decisões que influenciarão nosso destino e o de nossa civilização.
Das cavernas aos laboratórios. Do homem primitivo à este ser atual, global, virtual e supremo que tomou para si muitos dos atributos divinos. “Escapamos da Lei da Selva, somos hoje exodarwianos!”. Uma nova perspectiva do homem e sua estória, suas ações e consequências, seu já vivido passado e as escolhas para um possível futuro, é parte do que nos espera ao ler Hominescências que traduz: “O homem como espécie só pode nascer do amor.”
Hominescências - O começo de uma outra humanidade
294 págs.
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de Michel Serres.
Editora Bertrand Brasil (bertrand@record.com.br)