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quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Uma Esperiência Vinícola Desastrosa

by Ronaldo souza

Contrariando o Culto ao Vinho

Determinado a não mais passar gafes sociais em jantares com amigos, Dário decidiu apurar seu paladar para o vinho e se tornar um especialista na bebida. Saberia cada espécie de uva, região produtora, sabor e flagrância. Nenhuma faceta da fruta ou da bebida por mais sutil que fosse, lhe escaparia.

Passou a comprar garrafas de diversos vinhos provenientes de diferentes uvas, a fim de experimentar os inúmeros resultados das distintas safras, épocas e uvas.

Comprou livros. Assistiu reportagens.

Sim, tudo lhe dizia que valia a pena para a saúde. Os médicos já diziam que uma taça de vinho por dia era ótima para o coração e aumentava a longevidade.

Entusiasmado, Dário mergulhou na bebida de Baco.

Forçou a descida de adocicadas e amargas, estranhas e suaves, ácidas e vermelhas soluções engarrafadas, pela goela abaixo. Nem todas foram apreciadas ou saborosas para um paladar iniciante. Razão porque algumas vezes se forçou a manter oculta a careta causada pelo gosto sofrível de alguma uva.

Vinho do Inferno – pensava então - produzido sabe lá em quê porão imundo, ou talvez oriundo do antigo processo artesanal onde as uvas teriam sido pisadas por pés impregnados de fétidos odores...

Não se abateu pelos palatares percalços. Insistiu.

Todos os dias durante seu almoço lá estava uma taça vermelha, derramada de uma nova garrafa, um novo sabor a ser degustado. Afinal, não se podia desistir tão facilmente de um grande intento, apenas por insípidos inconveniente.

Mas passados alguns dias, fora vencido. Não que tivesse desistido voluntariamente. Seus propósitos eram por demais nobres: impressionar e impressionar.

Mas, porque tinha uma deficiência digestiva crônica, seu corpo reagiu. O fígado recusou-se a colaborar com tão importante missão. Entrou em fase de aversão permanente ao precioso e tinto líquido. Dário insistiu. Afinal o prestativo órgão cometia uma heresia, um estonteante sacrilégio: se recusava a digerir a bebida de nobres e cultos.

Pagou um alto preço pela insistência. Foi privado dos melhores momentos de convívio social, ou ainda, daqueles mais íntimos, com desejáveis damas, e enviado à força, por distúrbios intestinais, para banheiros solitários e indesejáveis, mas necessários à urgência do momento.

E após muitas insistências e observações, com resultados dolorosos e sofríveis, envergando-se de dor, Dário baixou a guarda e disse:

- Fígado, você ganhou. Aboliremos de vez o alcoólico e fermentado suco, tu ficarás livre da vermelha inundação, contanto que retornemos à paz intestinal.

Sua carreira de enólogo e sommelier fora permanentemente interrompida.