Conheça o Livro Raízes e Asas

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quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

O Amor Que Une


(do livro Diário de um Romance by Ronaldo Luiz Souza)
O amor que une
faz crescer
nos coloca provas
e nos desafia
a evoluir sempre
a ultrapassar nossos próprios limites
a ver além de nossos horizontes
e nos impulsiona
a buscar nossos ideais,
desejos,
sonhos
e vontades
Por que aqui estamos
E posto que há vida
Urge a necessidade de ser feliz
Irradiar e receber
A M O R
No intemporal momento
Desta existência.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Reflexões


by Ronaldo Souza



Os primeiros raios de sol da manhã acordaram Fred. O céu estava vermelho, como todos os dias, após a escuridão da noite. Estava feliz. Poderia ir lá fora, trabalhar um pouco e admirar seu quintal. Seu trabalho era simples: empilhava por poucas horas algumas placas a um canto, e quando sentisse que suas reservas de energia estivessem baixas, tocaria na Fonte, a estátua de um ser, semelhante a si, embora mais angelical, que estava sempre de mão estendida, a lhe oferecer seu precioso alimento.

A maior parte de seu tempo ficava livre, e assim procurava gastar o mínimo de energia com perambulações por seu mundo, posto que já o conhecia plenamente: um pequeno cômodo onde dormia, um quintal onde sempre permanecia no tempo ocioso, e a área onde trabalhava carregando placas e empilhando-as a um canto, quando então desapareciam para sempre. Era feliz em seu pequeno mundo... mas alguma coisa tinha mudado nos últimos dias...

Olhava para o pedacinho de céu e procurava por algo... como se algo mais existisse. Não sabia dizer o que, mas uma inquietação o perseguia. Para onde iam as placas que empilhava todos os dias? Elas desapareciam lentamente em um buraco escuro, era verdade. E a escuridão do buraco o assustava. Se algum dia passasse por ele, pensava, talvez também deixasse de existir.

Não conseguia comportar estes pensamentos. Mas eles não se extinguiam, antes se multiplicavam:

E se existisse algo além de seu pequeno mundo, que não a escuridão? E o que era ele? Criação da Fonte, certamente, que estava sempre a alimentá-lo e lhe dar instruções. Mas se podia pensar, seu criador também poderia, e se a Fonte fosse seu criador, por que ela não lhe transmitia nada mais além de alimentação e instruções vagas, por que não interagia ou mesmo lhe fornecia respostas às suas perguntas. Talvez ela fosse apenas um instrumento, e o verdadeiro criador estivesse fora de seu mundo...

Existirá algo... além... deste... mundo? Haverá... um... criador?

Seus pensamentos iam de um ponto a outro, até que a noite chegava, ia dormir, acordava e recomeçava toda sua rotina.

O cientista observava pela câmera de vídeo, o pequeno robô Fred executar diariamente suas tarefas: empilhava as placas de material incandescente vindas da usinagem para que fossem direcionadas à esteira de transporte. Antes, entretanto, analisava, em questão de segundos, a composição e a estabilidade molecular de cada uma. Como as placas seriam usadas em espaçonaves, não havia possibilidade de erros ou microfraturas no material. Após, recarregava suas baterias na estátua humana, uma alegoria que um colega inventara e ele concordara para tornar divertido o projeto: ao tocar na mão humana, as baterias do robô se recarregavam e seu programa era atualizado. Assim, o robô passava alguns longos minutos de mãos dadas com O Criador.

O experimento dera certo. O robô desempenhava suas tarefas e era estável em sua rotina. Estava certamente pronto para sair do laboratório e ser ativado nas fábricas. E com certeza o seria dentro de poucos dias, pois o presidente do projeto assim o exigira.

Mas o cientista não estava inteiramente satisfeito com as pesquisas. Dúvidas ainda o afligiam: Por que ficava o robô todos os dias no jardim após suas tarefas diárias? Porque não se desligava completamente, após executar suas tarefas e recarregar suas baterias como programado, mas direcionava uma parte de sua energia para seus circuitos neuronais, os chips equivalentes à sua região cerebral? Estaria ele desenvolvendo algum pensamento?

Improvável, pensara. Era apenas uma máquina. Ainda que chips de computador comandassem seus sistemas motores e eletro-eletrônicos. Com certeza, era uma anomalia criada por algum erro na programação. No futuro, sua programação deveria ser reescrita. Por ora, tinha que aprová-lo, conforme ordenado.

O cientista saíra de seu laboratório, almoçara e fora sentar debaixo de uma árvore no Jardim do Campus. Ficou observando os pássaros, relaxando por alguns momentos, com o pensamento distante. Olhou para o céu azul.

Haverá alguém lá fora, nos outros planetas? – pensara. Existirá um criador?

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

O Medo Atrai Seu Próprio Infortúnio

by Ronaldo Souza


Em desespero, ele corria velozmente fugindo de seu algoz. A aterrorizante sombra de olhos rubros o perseguia. E era sempre mais rápida. Ele tentara em vão se esquivar, mas sentira novamente as garras daquele demônio o atingirem. No mesmo instante, um tremor torturara seu corpo e sua alma, e a dor dilacerara seus sentidos. Aos berros, acordara. Suava em bicas. Tremia e tinha medo, muito medo.

Era um pesadelo recorrente. No auge de sua vida profissional, em períodos de depressão, Marcos passara a ter pesadelos. A diabólica sombra, saída sabe-se lá de qual inferno degradante, o afligia insistentemente noite após noite.

Procurou padres, pais de santo, feiticeiros e bruxos. Nenhum deles conseguiu exorcizar tal aparição.

Ficara com medo de dormir. Passara noites em claro, evitando o sono, com receio de encontrar a infernal criatura. Mas um breve cochilo era o bastante para que aquela monstruosidade viesse afligir seu espírito.

Uma noite, em pleno sonho, antes que a negra sombra viesse ao seu encalço, lembrou-se de um episódio de sua infância. Sentira a cena como se a estivesse vivendo naquele momento:

Percebera mais uma vez o cachorro aproximar-se. Num rápido galope começou a correr e gritar em sua direção. O assustado animal, vítima de pedradas e perseguições alheias, disparara em retirada, temendo ser ferido.

Todos os dias em sua rua, observava aquele animal. Entre tantos vira-latas que passavam pela rua, aquele cinza estava sempre por perto, e parecia sempre pronto a fugir de qualquer um que se aproximasse, como se fosse vítima de grande medo da violência humana. Passou a persegui-lo diariamente, todas as vezes que o via próximo de sua casa. Dava o galope e o grito de sempre, e o animal fugia como se sua vida dependesse disto.

Um dia, entretanto, após correr atrás do animal, este reagira de forma estranha. Correra, afastando-se para longe, assustado e perseguido, com o rabo entre as pernas; mas se voltara várias vezes para trás, ganindo e latindo, num desgraçado lamúrio.

Entendeu então o sofrimento do animal. O que para ele era diversão, para o pobre cachorro era angústia e tormento. A partir daquele dia, deixou o vira-latas em paz. Nunca mais o afugentou.

A cena da infância abalou Marcos profundamente. Entendeu o seu significado. Tal qual o cachorro perseguido, era preciso que enfrentasse seu medo.

Ainda em sonho, se viu lúcido. E garantiu a si mesmo que era forte o bastante para enfrentar fosse o que fosse. Sentiu-se crescer, com a força de mil homens e o poder de um Deus. Naquele momento, era o herói de sua própria história, capaz de vencer o verdadeiro demônio se este aparecesse em sua frente.

Ao avistar os olhos rubros da sombra que sempre o perseguira, não hesitou:

“Hoje é minha vez, sombra dos infernos” - gritou a plenos pulmões – “vou matá-la de uma vez por todas” - gritou com tamanha intensidade, coragem e determinação, que a sombra, até então perseguidora, atemorizou-se e tornou-se perseguida, fugindo da presa que agora a caçava, numa ânsia de morte e vingança insuperada.

Marcos a perseguiu violentamente, mas não logrou êxito em alcançá-la. Sentiu-se vitorioso, contudo. Recuperou sua autoconfiança e seu sono.


A sombra? Marcos nunca mais a viu reaparecer em seus sonhos.