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terça-feira, 6 de janeiro de 2009

O Medo Atrai Seu Próprio Infortúnio

by Ronaldo Souza


Em desespero, ele corria velozmente fugindo de seu algoz. A aterrorizante sombra de olhos rubros o perseguia. E era sempre mais rápida. Ele tentara em vão se esquivar, mas sentira novamente as garras daquele demônio o atingirem. No mesmo instante, um tremor torturara seu corpo e sua alma, e a dor dilacerara seus sentidos. Aos berros, acordara. Suava em bicas. Tremia e tinha medo, muito medo.

Era um pesadelo recorrente. No auge de sua vida profissional, em períodos de depressão, Marcos passara a ter pesadelos. A diabólica sombra, saída sabe-se lá de qual inferno degradante, o afligia insistentemente noite após noite.

Procurou padres, pais de santo, feiticeiros e bruxos. Nenhum deles conseguiu exorcizar tal aparição.

Ficara com medo de dormir. Passara noites em claro, evitando o sono, com receio de encontrar a infernal criatura. Mas um breve cochilo era o bastante para que aquela monstruosidade viesse afligir seu espírito.

Uma noite, em pleno sonho, antes que a negra sombra viesse ao seu encalço, lembrou-se de um episódio de sua infância. Sentira a cena como se a estivesse vivendo naquele momento:

Percebera mais uma vez o cachorro aproximar-se. Num rápido galope começou a correr e gritar em sua direção. O assustado animal, vítima de pedradas e perseguições alheias, disparara em retirada, temendo ser ferido.

Todos os dias em sua rua, observava aquele animal. Entre tantos vira-latas que passavam pela rua, aquele cinza estava sempre por perto, e parecia sempre pronto a fugir de qualquer um que se aproximasse, como se fosse vítima de grande medo da violência humana. Passou a persegui-lo diariamente, todas as vezes que o via próximo de sua casa. Dava o galope e o grito de sempre, e o animal fugia como se sua vida dependesse disto.

Um dia, entretanto, após correr atrás do animal, este reagira de forma estranha. Correra, afastando-se para longe, assustado e perseguido, com o rabo entre as pernas; mas se voltara várias vezes para trás, ganindo e latindo, num desgraçado lamúrio.

Entendeu então o sofrimento do animal. O que para ele era diversão, para o pobre cachorro era angústia e tormento. A partir daquele dia, deixou o vira-latas em paz. Nunca mais o afugentou.

A cena da infância abalou Marcos profundamente. Entendeu o seu significado. Tal qual o cachorro perseguido, era preciso que enfrentasse seu medo.

Ainda em sonho, se viu lúcido. E garantiu a si mesmo que era forte o bastante para enfrentar fosse o que fosse. Sentiu-se crescer, com a força de mil homens e o poder de um Deus. Naquele momento, era o herói de sua própria história, capaz de vencer o verdadeiro demônio se este aparecesse em sua frente.

Ao avistar os olhos rubros da sombra que sempre o perseguira, não hesitou:

“Hoje é minha vez, sombra dos infernos” - gritou a plenos pulmões – “vou matá-la de uma vez por todas” - gritou com tamanha intensidade, coragem e determinação, que a sombra, até então perseguidora, atemorizou-se e tornou-se perseguida, fugindo da presa que agora a caçava, numa ânsia de morte e vingança insuperada.

Marcos a perseguiu violentamente, mas não logrou êxito em alcançá-la. Sentiu-se vitorioso, contudo. Recuperou sua autoconfiança e seu sono.


A sombra? Marcos nunca mais a viu reaparecer em seus sonhos.

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