Foi numa noite de poucas estrelas, onde o frio, senão do ambiente, o da alma, mostrou-lhe a realidade:
Tudo é frágil como a casca do ovo, o vidro que se estilhaça, as pétalas das flores e a alegria de um sorriso.
Tudo é volátil e se segura apenas numa possibilidade, um frágil equilíbrio que pode se romper a qualquer momento.
Dalila ainda suspirou, mas não pôde reprimir a melancolia, e pensou:
“Nos esquecemos, ou mesmo não percebemos, e não cuidamos. Tudo é apenas o que é, e continua sendo, apenas por um fio, um único fio, prestes a se romper.
Eis a amizade que se cultivou em confiança por toda uma vida abalada por uma ou outra palavra, refletida ou não, tornada guilhotina daquele fio;
Eis o amor de uma vida, nascido no coração e na alma, envolvendo dois seres em sentimento mútuo, e que, por palavra, gesto, ação ou omissão se desintegra, deixando para trás apenas lembranças e a rotina insípida, até que esta mesma se despedaça para sempre;
Eis a vida, este leve sopro da alma que anima um corpo, rompida de um momento para outro, de forma irreversível;
E ali estão juntas e de mãos dadas, a beleza, a juventude, a felicidade, a harmonia, o encanto e o sentido, e eis que tudo se esvai facilmente num derradeiro instante.”
Foi assim, numa noite de poucas estrelas, com uma lágrima na face e um arrepio na alma, que ela
percebeu nossos passos sendo apagados pelo vento, e o caminho
se tornando vazio e só... até de si mesma.
Desde então, compreendo: ela vem apreciando cada vez mais sorrisos e palavras,
flores e cantos, sentimentos e a paixão pela vida...
...enquanto o fio aguenta e o equilíbrio se mantém...