Um refúgio onde Ronaldo Souza, escritor, expressa suas idéias em ficções, textos, contos e personagens em nua inspiração, para que possam ser encontrados e curtidos por amantes da leitura.
Conheça o Livro Raízes e Asas
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Meu próximo conto a ser publicado sairá no livro abaixo, com lançamento previsto para Março de 2009:
UNIVERSO PAULISTANO - CONTOS, CRÔNICAS E POEMAS DE UMA CIDADE QUE NUNCA DORME
Trata-se de uma coletânea de textos literários de novos autores, organizada pelo editor de livros, escritor e roteirista de HQ Edson Rossatto e pelo Professor Doutor Carlos Francisco de Morais, cujo objetivo é homenagear São Paulo por seus 455 anos. Logo na capa, podemos contemplar o imponente edifício Martinelli sob a lente objetiva de um fotógrafo.
Vi pessoas antes alegres e divertidas, se tornarem amargas e tristes. Voltadas ao próprio sofrimento, carregando dentro de si o peso do passado ou do momento presente. E tudo ao redor, para elas, ter se tornado cinza como seus pensamentos.
Suas vidas estagnaram. Tornaram-se um diário e penoso arrastar de si mesmas pelas insuportáveis horas de sua existência. Acostumaram-se ao mau humor e à mediocridade. Desistiram de seus sonhos e vivem reclamando de tudo e de todos. Amigos se afastaram, e mesmo familiares.
Ninguém convive bem com a amargura. Ainda mais se puder se afastar.
Procurei saber o que faz com que pessoas alegres se tornem amargas. E vi muitas coisas. A morte de alguém querido. A perda de seus sonhos. Doenças. A ausência de amor. Violência. Tragédias familiares. E mesmo a incapacidade para amar.
Também vi pessoas que sofreram imensas tragédias pessoais e que mesmo após muito sofrimento, nunca deixaram para trás sua jovialidade e sua capacidade de se encantarem com a vida. Estas foram muito poucas.
Compreendi que, não importa pelo que passem as pessoas, é preciso que abram suas janelas e deixem entrar a luz. Para que se renove o ar que respiram. E voltem a enxergar a vida em toda sua plenitude. Porque assim voltarão a encontrar um sentido, um caminho que valha à pena ser trilhado e no qual possam enfim encontrar novamente a alegria perdida. E porque não importa pelo que ou por quem choram: emitindo boas vibrações, todo o universo pode senti-las.
Olho ao redor e vejo que vem chegando outra alma desconsolada...
Sempre doentes, sempre amargas.
Como seria bom encontrar novamente uma daquelas almas que voltaram a abrir suas janelas. Eu as levaria direto para os campos floridos e belos, para se encantarem com o azul e inundarem seus olhos de luz... mas ao invés disso, tenho de levá-las para a quarentena... onde ficam até se recuperarem de suas amarguras.
Mas não me canso de tentar protegê-las e encaminhá-las para a luz. É o trabalho que escolhi. Algumas pessoas, por vezes, me chamam; outras me rejeitam. Insisto. Porque mesmo em seus momentos de trevas, mesmo quando acham que estão sós, eu estou por perto, procurando aliviar sua dor e iluminar suas vidas. Procuro sempre o seu bem.
(do livro Diário de um Romance by Ronaldo Luiz Souza)
Teu corpo É um santuário de luz E suave amor Horizonte florido Onde se delicia Meu olhar E repousa meus sonhos De ser o sonho teu Em noites juvenis Em manhãs perfumadas De nossa intimidade Em tardes febris De apaixonado prazer
Teu beijo É uma ilha tropical Taça cristalina derramando Vinho e mel Despertando a ternura do amor A doçura da carícia E o agitar da paixão Soprando carinhos quentes Em praias de irresistível azul
Teu olhar É um promissor amanhecer Suave e belo renascer Fonte carinhosa Que emana sentimentos Equilibra e compreende Minha alma Translúcida amante De tua alma
Tua presença É uma cascata de vida Doce fonte de vida e calor Provocando alegria selvagem E profunda emoção Desperta Invade É absoluta Em provocar-me O infinito amor Que tenho por ti
Então Fascinado por teu corpo Apaixonado por teu beijo Seduzido por teu olhar Maravilhado por tua presença Posso gritar Tendo céu e estrelas distantes Por testemunhas Eu amo você!
segunda-feira, 15 de dezembro de 2008
Sobre o conto coletivo Esquecidos de Réquiem: Alguns autores da antologia Réquiem para o Natal se propuseram um exercício de imaginação e colaboração: criar uma novela coletiva no melhor estilo mexicano. Cada um contribuiu com um trecho e o próximo autor tentou dar continuidade ao que o anterior escreveu, construindo uma narrativa única. A história se passa à oeste do lado mais escuro do Natal em um povoado chamado Réquiem e fala de muitas lutas, de vilões e heróis. As reviravoltas, as tramas e os mistérios que envolvem cada personagem vão aos poucos contando o drama que envolve a cidade. Aqui ninguém é inocente e o próximo capitulo pode ser o último de sua vida. Agradeço meu esposo e escritor Ademir Pascale pelo apoio na organização deste suplemento e ao empenho pessoal de Danny Marks e Ricardo Delfin, no processo de revisão do conto coletivo, assim como no seu trâmite final. Agradeço também aos autores que participaram deste Suplemento Especial e desejo-lhes muito sucesso em suas empreitadas literárias. Uma ótima leitura, um feliz natal e um excelente 2009. Elenir Alves Editora e Organizadora
Determinado a não mais passar gafes sociais em jantares com amigos, Dário decidiu apurar seu paladar para o vinho e se tornar um especialista na bebida. Saberia cada espécie de uva, região produtora, sabor e flagrância. Nenhuma faceta da fruta ou da bebida por mais sutil que fosse, lhe escaparia.
Passou a comprar garrafas de diversos vinhos provenientes de diferentes uvas, a fim de experimentar os inúmeros resultados das distintas safras, épocas e uvas.
Comprou livros. Assistiu reportagens.
Sim, tudo lhe dizia que valia a pena para a saúde. Os médicos já diziam que uma taça de vinho por dia era ótima para o coração e aumentava a longevidade.
Entusiasmado, Dário mergulhou na bebida de Baco.
Forçou a descida de adocicadas e amargas, estranhas e suaves, ácidas e vermelhas soluções engarrafadas, pela goela abaixo. Nem todas foram apreciadas ou saborosas para um paladar iniciante. Razão porque algumas vezes se forçou a manter oculta a careta causada pelo gosto sofrível de alguma uva.
Vinho do Inferno – pensava então - produzido sabe lá em quê porão imundo, ou talvez oriundo do antigo processo artesanal onde as uvas teriam sido pisadas por pés impregnados de fétidos odores...
Não se abateu pelos palatares percalços. Insistiu.
Todos os dias durante seu almoço lá estava uma taça vermelha, derramada de uma nova garrafa, um novo sabor a ser degustado. Afinal, não se podia desistir tão facilmente de um grande intento, apenas porinsípidos inconveniente.
Mas passados alguns dias, fora vencido. Não que tivesse desistido voluntariamente. Seus propósitos eram por demais nobres: impressionar e impressionar.
Mas, porque tinha uma deficiência digestiva crônica, seu corpo reagiu. O fígado recusou-se a colaborar com tão importante missão. Entrou em fase de aversão permanente ao precioso e tinto líquido. Dário insistiu. Afinal o prestativo órgão cometia uma heresia, um estonteante sacrilégio: se recusava a digerir a bebida de nobres e cultos.
Pagou um alto preço pela insistência. Foi privado dos melhores momentos de convívio social, ou ainda, daqueles mais íntimos, com desejáveis damas, e enviado à força, por distúrbios intestinais, para banheiros solitários e indesejáveis, mas necessários à urgência do momento.
E após muitas insistências e observações, com resultados dolorosos e sofríveis, envergando-se de dor, Dário baixou a guarda e disse:
- Fígado, você ganhou. Aboliremos de vez o alcoólico e fermentado suco, tu ficarás livre da vermelha inundação, contanto que retornemos à paz intestinal.
Sua carreira de enólogo e sommelier fora permanentemente interrompida.
Quando sair na chuva... não se importe em se molhar
Porque é sempre assim... não importa o que façamos, estamos sempre sujeitos a levarmos alguns respingos. Faz parte da vida.
Não querendo se molhar, nem ouse sair de casa.
Se não quer sentir a possibilidade de derrota, nem mesmo sonhe com a vitória. Se deseja segurança, não se exponha. Ainda assim, corre riscos, inclusive o de não viver... Afinal, estar vivo é estar exposto a riscos e possibilidades.
Não há escapatória. Se você está vivo, logo interage.
A despeito de sua vontade, pessoas podem amá-lo ou odiá-lo... não importa. Importa sim, a sua reação, a capacidade de lidar com situações estressantes sem se afundar no lodo do rio ou se deixar arrastar pela correnteza. Ao contrário, é necessário flutuar por cima das ondas, em uma leve tranqüilidade, relaxando com o fluir dos ventos, a cada instante.
O trânsito sempre pode se complicar em apenas um segundo, quando tudo parecia normal e tranqüilo; a saúde, provocar sustos; as finanças, piruetas; os desafios e dificuldades, medo e impotência. No entanto, é preciso manter a calma, a tranqüilidade e a fé.
Não se pode ter medo de se molhar na chuva, de se queimar ao sol, de sofrer no amor, de chorar na tristeza, de fracassar na vida ou de não ser capaz, pois não se pode ter medo de viver...
São as surpresas e os desafios que trazem sabor à existência.
É no auge da estação da chuva que mais sentimos falta do tempo seco. Também é no auge do inverno que mais sentimos falta do verão, e no verão, quando mais ansiamos pelo clima ameno do outono...
Todo excesso nos provoca um desejo do seu oposto... que o digam os solteiros e solteiras cansados da agitação e da rotatividade de parceiras e que, no fundo, gostariam de sentir a intimidade conquistada com uma só pessoa com quem tivessem afinidade... também o seu oposto é verdade... qual pessoa casada que embora feliz no casamento não gostaria de vez ou outra, voltar a cortejar ou ser cortejado por uma estranha? Somos criaturas ambíguas: a ausência nos causa o desejo, mas na presença tendemos ao fastio...é preciso aprender a valorizar a presença e a suportar a ausência... tudo tem o seu tempo, e em cada um deles devemos colher seus frutos...
Ontem eu era uma criança, um adolescente, um jovem. Hoje sou um homem. E descobri ao caminhar pela vida um chavão que senti na pele: o de que somos todos iguais. Aprendi que apenas nos encontramos em momentos e situações diferentes, por isto nossas visões distorcidas do mundo nos provocam opiniões diferentes. Mas mostramos nossa inteligência e capacidade de interagir quando aprendemos a ouvir a opinião do outro e a enxergar a visão que a provocou. Caminhando, constatei: criança, jovem ou velho, ricos ou pobres, coloridos ou sem cor, nascidos no Leste ou Oeste, somos muito mais que qualquer rótulo: somos humanos!
Repetimos os passos já dados por nossos ancestrais, sempre querendo algo de novo, e descobrindo que este algo novo, na verdade, é bem mais velho que imaginamos.
Se me cabe partilhar um segredo, do tempo que por mim passou, aqui está ele: caminhe, e não se preocupe mais com os respingos da chuva, ou o pó da estrada. A despeito das incertezas, também há flores e cascatas pelo caminho. E se houver alguma pedra no caminho, apenas desvie. Também pode haver tesouros a serem encontrados. É preciso caminhar. É preciso viver.
Cada estação produz frutos diferentes, e cada fruto tem o seu sabor. Escolher entre eles é nossa mais simples tarefa. Mas querer viver apenas de um deles é nosso erro mais clássico, como também o é escolher sempre aqueles inalcançáveis. Simplifique. Sua satisfação agradece.
(do livro Diário de um Romance by Ronaldo Luiz Souza).
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Gosto de quando teus olhos brilham
Olhando-me
E tuas mãos ficam inquietas
Acariciando meu corpo
Quando te doas generosa e cálidamente
Quando tua respiração relaxa e te tornas toda carinho e meiguice
Quando teu sorriso me sorri com a alegria de estar ao meu lado
E tu me amas te amando
Quando todo teu corpo diz “Te Quero” em palavras ocultas
E teus olhos revelam a beleza de tua alma
Quando tu és tua própria essência
É quando mais te amo é quando tu mais me amas
É quando o amor mais nos ama
(do livro Diário de um Romance by Ronaldo Luiz Souza)
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. Estar apartado de ti
é ter arrancado de meu ser
minha parte mais preciosa, a mais amada
Longe vivo em uma ilha onde o oceano se faz
Em pensamentos flamejantes que relembram nossas memórias,
palavras, estória, sentimentos, nossos sorrisos e nossas lágrimas.
Estar longe de ti
é olhar o horizonte e nada ver,
estar mas não permanecer,
viver e nada sentir
senão a anestesia de um mundo
onde não há cor e nem vida
em suas planícies áridas e frias
Estar distante de ti
é viver a agonia da escuridão formada
sem a luz da tua alma e o brilho de teus olhos
sem o sorriso de teus lábios e o amor de teu coração
Estar separado de ti
é viver com olhos úmidos, o coração enjaulado,
os risos e as alegrias retidas em um mundo
que já parece não mais me pertencer.
Estar fora de ti
é sempre desejar reviver
as nossas manhãs de céu azul e noites de luar,
o enlace de nossas emoções e sentimentos
Porque Longe Apartado Separado e Fora de ti
é sempre
Desejar ardentemente
Querer profundamente
Sonhar intensamente
Viver ansiosamente
Almejar novamente Estar junto a ti.
Nesta antologia se encontra meu conto: A Árvore dos Malditos.
RÉQUIEM PARA O NATAL MOSTRA O LADO SOMBRIO DAS FESTAS DE FIM DE ANO
Novo livro da Andross Editora reúne 46 autores de vários estados brasileiros e tem lançamento dia 07/12/2008.
As mensagens de Natal costumam ser carregadas de mensagens de amor, comunhão, partilha. A decoração das ruas e vitrines, com seus “papais noéis” sorridentes e figuras angelicais reforçam esta imagem. Para muita gente, porém, a lista de compras, o trânsito caótico e a família reunida em torno da ceia são um verdadeiro terror.
Foi pensando nisso que a Andross Editora lançou um desafio a um grupo de novos talentos das letras e fez em sua mais nova antologia, Réquiem para o Natal - Contos sobrenaturais, de terror e de suspense com temática natalina (224 páginas, R$ 29,00). O livro reúne 44 contos escritos por 46 autores em início de carreira com organização de Edson Rossatto, editor da Andross.
Esta é mais uma antologia da Andross Editora com textos inéditos de novos autores, que encontram neste formato uma oportunidade de publicar suas histórias. Foram analisadas 280 obras, durante seis meses, até se chegar às 44 selecionadas. Há autores de vários estados brasileiros.
Réquiem para o Natal é a 20ª antologia que a Andross lança em seus quatro anos de mercado. Por este sistema, a editora já publicou mais de 780 autores, de 13 a 68 anos, do ensino médio ao doutorado, amadores e profissionais. Alguns dos que estrearam nas antologias da Andross hoje já têm obras publicadas individualmente por outras editoras.
TRECHO:
A mãe da garota chorava abraçando o marido, não conseguindo mais escutar o que o médico falava. Tudo que queria era sua filha de volta, aquela mesma garotinha de olhos âmbar, sorrindo e brincando com o irmão gêmeo, puxando-lhe a barra da saia e perguntando se ainda faltava muito tempo para os dias de neve e para a noite de Natal.
“Neve Rubra”, de Rúbia Cunha
Sobre a Andross Editora
Com 32 títulos publicados, a Andross Editora nasceu no campus da Universidade Cruzeiro do Sul, em São Paulo, para abrir espaço aos alunos que não tinham condições de publicar seus primeiros textos. Iniciou as atividades com obras acadêmicas, cresceu e se manteve graças a um modelo de negócio diferenciado: a publicação de antologias. Até hoje, a editora já lançou 20 livros deste tipo, e está com inscrições abertas para novos lançamentos em 2009.
LANÇAMENTO
RÉQUIEM PARA O NATAL - CONTOS SOBRENATURAIS, DE TERROR E DE SUSPENSE COM TEMÁTICA NATALINA
Vários autores – Organização: Edson Rossatto
DATA: 7 de dezembro de 2008
LOCAL: Espaço WN - Rua Jorge Augusto, 668 - São Paulo –SP (Próximo ao metrô Vila Matilde)
Clique na figura acima para ler o convite do lançamento do Livro de Contos "Réquiem para o Natal". Você pode adquirir o livro no site da Editora cultura no link ao lado. Aproveite!
terça-feira, 18 de novembro de 2008
Um de meus contos será publicado pela Editora Andross no livro abaixo: RÉQUIEM PARA O NATAL - CONTOS DE TERROR DE NATAL Org. de Edson Rossatto
SINOPSE: Natal. Época de paz, amor e fraternidade. Mas não para você. Esqueça-se de tudo que seus pais lhe contaram quando criança e prepare-se para conhecer o lado negro do Natal em 53 histórias sobrenaturais, de suspense e de terror. Nada de amor e fraternidade. A única paz que encontrará aqui é a paz eterna. Atreva-se a abrir este presente. Lançamento do Livro em 07/12/2008 das 17h00min às 20h00min LOCAL: Espaço WN Rua Jorge Augusto, 668 - Vila Matilde São Paulo - SP Os livros poderão ser adquiridos inicialmente no local do lançamento e no site da Editora Andross: www.andross.com.br, ou pessoalmente comigo (tenho apenas vinte exemplares)
Ontem acordei, estava em meu berço, tive que pular a grade para me ver livre no chão. Custou-me alguns arranhões e quase uma queda.
Pisco os olhos e já me vejo indo para a escola, o cinema, o barzinho, o clube, a boate, a galera, a faculdade e o emprego. Tanto misto de emoções em tudo isto, tantos conflitos e buscas, mágoas e ressentimentos, alegrias e comemorações.
É apenas um piscar de olhos, e tudo muda: da terra ao espaço, das pipas, do pião e do trenzinho de brinquedo ao computador e ao cyberespaço, das bonecas das meninas aos anticoncepcionais.
É apenas um piscar de olhos, e vejo amigos que se foram, tempos escorridos, mudanças bruscas, decisões radicais, ações e rupturas, uniões e amizades, caminhos que se bifurcaram em outros maiores ou em pequenas trilhas por onde andei sozinho ou ao lado de alguém, mas sempre, sempre um pensamento dentro de mim, desconfiado e reticente: “tudo passa, nada é eterno, nada dura para sempre” e eu fico a ver meus próprios passos caminhando quando desejo, e também, quando nem sei por que caminho.
Por que por mais que eu viva intensamente cada momento sei que muitos outros deixo de viver, por mais que eu me realize e satisfaça meus desejos há tantos outros que nunca irão se realizar mesmo que eu me iluda que basta que eu queira; talvez alguns deles eu conseguisse realizar depois de muita lutae a um custo tão alto que depois eu mesmo me perguntaria se valeu ou não à pena tê-los realizado e sacrificado tantas coisas, como eu mesmo já fiz ainda ontem, e o resultado ter sido tão vulgar e medíocre, uma leve sombra do que poderia ter sido; suspiro brevemente vendo as gotas de chuva baterem no vidro da janela, lágrimas de um mundo imperfeito que também escorrem de meus olhos,”Deus” – penso, por que tudo isto? Por que não apenas a beleza e a perfeição, o eterno e a alegria, a explosão do amor e a emoção da alegria, o ontem, o hoje e o amanhã em um só presente eterno... em um só momento feliz que dure para sempre, pleno de si mesmo, no paraíso distante e completo da humanidade... mas cá estou, o mundo e as pessoas lá fora parecem ser muito mais felizes que sou, cercado de gente ainda me sinto só, e estou no limbo cinza e descolorido de vida e entusiasmo, nem sei ao menos como aqui cheguei.
Olho e não vejo, escuto mas não ouço, tudo parece passar por mim, olho no espelho e a imagem refletida ora tem cabelos escuros e viçosos e pele saudável, ora pouquíssimos e brancos cabelos, mas uma infinidade de rugas... será mesmo meu este rosto, terei mesmo esta idade? E eu que me arrependi de não ter lutado com todas as forças por um ou outro amor que me fascinou, passando por minha vida, talvez ainda houvesse tempo de voltar atrás e reconstruir tudo, talvez seja tarde demais, sei que me omiti algumas vezes, outras não aconteceu parte pelo destino, de minha parte talvez por timidez, talvez pela maldita polidez cicatrizada no corte cirúgico com que a sociedade extirpa nossos desejos, mas um pensamento bem interno, lá no fundo, diz que eu mesmo sou o culpado por ter deixado calar a voz que me guiava aos meus sonhos e ideais e que agora só me cabe sacudir a poeira da estrada e recriar novamente meu caminho ainda que eu leve tombos e bordoadas não importa, o que importa é que eu já não mais estou tão inconsciente assim...
O bebê, o menino, o rapaz e o homem se misturam ao velho e já não conheço mais nem a mim mesmo nem a minha idade somente sei que fecho os olhos para nada mais ver, tudo se mistura, eu sou tudo e todos, meu ontem e meu amanhã, minha própria alegria e desgraça. Um leve piscar de olhos e tudo muda, embora ainda cinza e indiferente,
Pisco os olhos, alguém me chama, volto à minha realidade, é minha mãe, pisco os olhos de surpresa, é minha esposa, pisco novamente são meus filhos. Não agüento mais piscar os olhos, mas eles piscam assim mesmo, meus netos correm para mim, tenho medo de piscar novamente, quem sabe o que mais virá...
Fecho os olhos de propósito para nada mais ver, e tenho medo de abri-los novamente...
... não agüento mais, cansei de tudo e de mim mesmo, melhor dormir, talvez uma noite de sono me restaure... mas... quem sabe já morri e sou um fantasma vendo toda minha vida passar tão rápido assim?
Passo por um leve sono, volto à consciência, mas meus olhos ainda estão fechados, tenho medo de abri-los, ouço mas não há nada para ouvir... dentro de mim renasce a esperança, como uma janela se abrindo ao sol, e desconfiado e temeroso, enfim abro meus olhos.
Hoje eu passei pelo jardim da cidade. Sempre que vou por ali, faço o caminho mais longo, porque gosto de caminhar próximo às grandes árvores.
Então vi o pequeno lago e o homem que o contemplava. Ambos imóveis. Silenciosos. Unidos em seu isolamento.
Posso dizer o que a imagem daquele homem parecia gritar: ali estava alguém ainda capaz de parar para contemplar um lago. Em plena semana. No meio da correria do dia-a-dia. Quando todos passavam tão apressadamente.
Ele estava lá, impassível. Contemplava o lago. Enxergava o vazio. Buscava a si mesmo.
Interrompi meus passos. Saí do fluxo dos que iam e tornei-me par com aquele que contemplava. Prestei atenção.
Lá estava o homem. O lago. E a incógnita da existência. O vazio, a solidão e a plenitude do contemplar.
Vestia-se de forma simples. Cabelos emaranhados, já grisalhos. Pele queimada de sol. Era pura tristeza e melancolia. O que o atirara à margem do rio da vida, entretanto, só ele poderia dizer.
Mas eu podia ler de longe sua história, em seus pés vincados e inchados, em suas roupas surradas, em seu silêncio vazio.
Seus cabelos balançavam ao vento. Mesmo de longe as rugas evidenciavam, senão sua idade, os percalços por que trilhara. Era um senhor. Mas, como todos nós, apenas uma criança crescida.
Seus olhos estavam fixos no lago. O quanto não teriam já visto aqueles olhos, o quanto não teriam para contar...
Eu os contemplava. Ao homem e ao lago. À sua inércia e ao seu abandono.
Aproximei-me. Olhei em seus olhos. E em seus olhos, havia o lago.
Olhei o lago. O lago também o contemplava.
Percebi a mim mesmo. Eu os contemplava.
Enxerguei meu caminho, minha vida, meu vazio.
Olhei para cima. E passei a contemplar o céu. E minha alma e meu coração se encheram de paz. Assim fiquei por longos momentos. Ao olhar para o lado, percebi que o homem já não contemplava mais o lago. Também passara a contemplar o céu.
Conto publicado no livro Contos Selecionados de Novos Autores Brasileiros,
pela Câmara Brasileira de Jovens Escritores
by Ronaldo Souza
Arduamente, durante onze meses, eu trabalho. Onze meses em que vivo, dia após dia, com apenas um objetivo: alcançar o décimo segundo mês. Por que só aí me realizo.
As pessoas gostam de mim. Principalmente as crianças. Estas, quando me vêem, abrem largos sorrisos. Exclamam. Surpreendem-se. Um brilho nasce em seus olhos. Correm em minha direção, a qualquer custo. Eu as abraço, brinco, ouço o que têm para me dizer. Por elas vale meu esforço. Sua alegria contagia minhas ações. Todos gostam de mim.
Observo minhas doces crianças. Desde cedo elas aprendem a me amar. Terna e calorosamente eu as acalento. Na infância não há discriminações. Não há etnias, cores, credos, classes. Todas são simplesmente... crianças.
No décimo segundo mês, eu as tenho bem próximo de mim. Vivo intensamente estes instantes. Cada olhar, cada sorriso é precioso e único. E eu sei que em suas vidas eu só tenho este curto espaço de tempo: o décimo segundo mês. Ainda assim, não para sempre. À medida que crescem, vão se esquecendo, tornando-se adultas, até não mais lembrar, ou terem apenas uma vaga lembrança de minha presença e de seus sonhos infantis, os primeiros e verdadeiros sonhos de suas vidas. Outras crianças nascem, clamam por mim, mas sinto a falta de cada uma daquelas crianças tornadas adultas. Esqueceram-se dos momentos simples e felizes de seu passado. Quando tudo que precisavam para ser feliz... era ser feliz.
Mas me sinto triste e só. Em algum ponto, sinto que fracassei. Porque de cada sorriso que acalento, de cada pequeno anjo que embalo, sei que tantos outros foram perdidos, selvagemente arrastados pela correnteza maligna, e não os pude salvar. Aqueles que estão em meus braços são apenas os sobreviventes...
Eu tenho sido tão só. Tristemente só. Desdobro-me em mil ações. Mas sou apenas um. Durante onze meses, todos me esquecem. Onze meses de trabalho árduo, economizando cada centavo. Eu não os esqueço. Eu trabalho por todos.
Em meu íntimo, tenho chorado. Durante onze meses de trabalho, assisti pelo mundo crianças violentadas, exploradas, escravizadas, torturadas e mortas. O motivo? Guerras. Tráfico. Crimes. Até mesmo o trabalho árduo e precoce. E a visão distorcida, predatória e brutal do sexo.
Algumas foram anjos que voltaram mais cedo aos braços de Deus, outras são ainda flores sendo sugadas, descoloridas, pouco a pouco esmagadas. São sonhos que murcham numa terra cinza, sem nunca conhecer o azul do céu...
Toda minha luta é para trazer luz novamente à esta terra, colorindo o seu céu com um lindo arco-íris...
Arduamente trabalho durante onze meses. Para viver. Para não lembrar dessas crianças que se foram, e das que são consumidas e devoradas, sem a lembrança da humanidade.
Trabalho, e continuo assim. Até o décimo segundo mês.
Hoje é o último dia. Hoje se completam onze meses. Aguardo as 18:00hs. Recebo meu último pagamento do ano. Reúno todas minhas suadas economias. Compro todos os presentes que meu dinheiro pode comprar. Porque amanhã é outro dia. Amanhã é o décimo segundo mês.
O amanhã chega afinal. O hoje torna-se o décimo segundo mês. Posso voltar a ser eu mesmo. Embora a idade avance, o tempo passe, sou eu e ninguém mais aqui dentro de mim, vivendo minha própria verdade.
E a minha verdade é esta: dar o que reuni, dar o que sobra e o que falta, dar de mim mesmo e fazer parte do outro. Porque estou dando além da matéria: estou distribuindo esperança, plantando amor, espalhando alegrias... sementes para um amanhã mais feliz.
Assim, boto o saco nas costas e continuo meu caminho: o caminho do décimo segundo mês.
Passo por todos os lugares: onde há arvores decoradas e luzes brilhantes, ou onde somente há a escuridão da desesperança;
Onde há ceias e troca de presentes, ou onde sequer há solidariedade ou uma troca de olhares...
Mesmo corroído por dentro, lastimando a sorte dos inocentes perdidos e dos que ainda estão acorrentados, vou arrastando minha vida, neste tão esperado décimo segundo mês. Até que ouço um grito:
“Papai” – e um pequeno sorriso correndo em minha direção – “Papai” – os gritos ecoam alegremente, iluminando meu ser, desfazendo o cinza de meu interior, recriando um sol a iluminar meus sentidos e minha vida, então ouço novamente a pequena garotinha gritar, de novo, excitada e alegremente: “Papai”... “Papai” e vejo seus bracinhos se abrindo, velozmente vindo em minha direção.
Então não resisto, a abraço amorosamente, e as lágrimas rolam em meu rosto. Mas preciso sorrir, afinal é o décimo segundo mês. É Natal.