Conheça o Livro Raízes e Asas

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sábado, 7 de fevereiro de 2009

Flagelo Verde

by Ronaldo Souza



Laurinha olhara decepcionada para a janela ao acordar pela manhã. Sua violeta no parapeito da janela estava murchando e morrendo. Um dia antes, seus botões haviam desabrochado em lindas flores brancas contornadas por vermelho e salpicadas de lilás. Correu para chamar sua mãe. Tinha apenas seis anos. Não alcançava ainda o parapeito.

- Mamãe, mamãe. Coloca água na minha violeta... ela tá morrendo, tadinha.

A mãe viera em socorro da filha com um copo de água na mão:

- Mas eu coloquei água nela ontem...

Quando se aproximara do vasinho, no entanto, a mãe vira que a violeta estava já quase morta, mas o pote, ainda úmido. Intrigou-se. Porém, ficara perplexa quando, ao olhar através da janela que ficava de frente para o extenso jardim central da cidade, percebeu que todas as árvores morriam como a violeta em seu pote. Suas folhas se amarelaram e caíam; seus troncos enegrecidos vergavam sobre si mesmos, causando um macabro espetáculo.

Um clima tenso e irrespirável dominara o gabinete presidencial. Ali, em uma reunião secreta e convocada às pressas, se encontravam três homens de suma importância: O Presidente do país, o Ministro do Meio Ambiente e o Cientista de Pesquisas Governamentais.

- Então o vírus atinge apenas vegetais? – inquirira o presidente - Nenhuma outra criatura? Aves, insetos, peixes, mamíferos?

- Não, senhor – respondera o cientista – o vírus P. age apenas sobre organismos vegetais...

Uma visível expressão de alívio estampou-se no rosto do presidente.

- Então não chega a ser uma calamidade. Apenas algumas lavouras perdidas...

- Perdoe-me, senhor - retrucara o Ministro – mas a situação é muito mais grave. O vírus se alastra a uma velocidade espantosa. Ainda não encontramos uma cura.

Fez uma pausa, e depois continuou:

- A vida vegetal é a base da vida neste planeta. Sem ela, toda a escala de animais superiores irá perecer... inclusive....

O rosto do presidente voltara a assumir uma expressão grave e preocupada. Interrompeu bruscamente o ministro:

- Você está querendo dizer... – a cor fugira do seu rosto -...a humanidade.

- Sim, senhor. Não será apenas uma ou outra lavoura que será dizimada... mas todas as lavouras... todas as árvores, qualquer forma de vida vegetal... haverá fome sem precedentes...

- Temos nossos rebanhos...

- Eles serão os primeiros a sentir este efeito, e morrerão aos milhares...

O queixo do presidente perdera a rigidez. Sua boca se abrira num espanto mudo.

“Como pôde acontecer?” – pensara o Ministro.

A resposta veio em seus pensamentos: A ambição humana. Uma década atrás fora diagnosticado que cerca de quinze por cento de todas as lavouras eram perdidas pelo ingresso de ervas daninhas nas plantações.

Visando maior lucro, a indústria agrotécnica, apoiada pelo governo, encomendara aos cientistas a criação de um herbicida potente e inócuo ao meio ambiente. Não se queria que grupos de ecologistas saíssem em manifestações pelas ruas, a um enorme custo político.

Os cientistas pesquisaram não uma substância química, mas uma solução genética. O resultado fora o vírus P. capaz de se ligar à cadeia de genes de plantas invasoras e causar sua morte. Fora um sucesso. Foram colhidas safras recordes. Em algum momento, porém, ocorreram mutações. O vírus fugira ao controle. Adaptou-se, atacando qualquer espécie de planta que encontrasse. Tornou-se então um flagelo.

O ministro do meio ambiente e o cientista esperaram, constrangidos, até que o presidente absorvesse a catastrófica notícia que lhe tinham dado.

O presidente interfonou para seu assessor:

- Reúna todos os Ministros ainda hoje. – resmungou atônito - Convoque uma reunião com o congresso nacional. E uma coletiva com a imprensa.

-Há algo mais que queiram me dizer? – perguntou o presidente.

- Infelizmente sim, senhor. – disse o cientista.

- Pois, então digam.

- Esta catástrofe, senhor... não se limitará à fome... em algum momento... não teremos mais ar para respirar.

- Meu Deus! - exclamou abalado o presidente – Mas é claro! Sem árvores... sem oxigênio!

Levantou-se imediatamente, começou a andar de um lado para outro da sala.

- Quanto tempo temos?

O cientista começara a raciocinar. Este cálculo ele ainda não fizera.

Após imensas e sigilosas discussões políticas, um alerta por toda a nação fora lançado. Em breve tornou-se um alerta mundial. Cientistas de todo o mundo uniram-se.

Todo o esforço humano se voltara para o Projeto Vida Verde, a busca por um antídoto, uma cura para o vírus P..

Em sua casa, Laurinha ligara a TV. Os canais de TV transmitiam a extensão da tragédia. Nas praças, jardins e gramados, todo o verde desaparecera em poucos dias... Nas regiões silvestres, florestas inteiras se extinguiam. Nos oceanos, rios e lagos a tragédia era a mesma... com algas e plantas aquáticas. Sem plantas, morriam também pássaros, insetos, animais herbívoros. A terra tornara-se putrefata, com os restos mortais em decomposição...

A mãe de laurinha tentara sintonizar a TV em outra programação. Mas fora em vão... todos os canais exibiam a mesma reportagem...

A fome se espalhara rapidamente.

Animais carnívoros tornaram-se carniceiros e o homem não demorara a seguir seus passos....

Rapidamente surgira a idéia de enormes frigoríficos para aproveitar a carne dos animais. Isto daria uma chance de sobrevida aos humanos. Desde animais silvestres, até os rebanhos que foram previamente abatidos para que a carne não se perdesse, pois a fome tornaria os animais magros e descarnados até sua lenta e lastimável morte...

Cúpulas gigantescas de vidro foram erguidas para isolar áreas de florestas, tentando salvá-las, mas foram inúteis... o vírus facilmente as atravessara e eliminara as plantas ali isoladas.

Enormes usinas foram criadas a fim de produzir oxigênio artificialmente. Foram úteis, mas incapazes de suprir a necessidade humana. O ar logo se tornaria rarefeito.

Os alimentos foram sendo restringidos. No princípio, houve a distribuição de uma insuficiente cesta básica para cada família. Depois estas cestas foram suspensas. A fome se alastrara e junto com ela veio a loucura...

As pessoas brigavam por um pedaço qualquer de alimento. Roubo e morte tornaram-se fatos corriqueiros.

Populações inteiras tentavam desesperadamente conseguir algum alimento. Milhares morriam... todos famintos e desesperados. Muitos se mataram para escapar da fome. Outros passaram a ser caçadores... de sua própria espécie. Tornaram-se canibais.

Nos poucos centros criados e defendidos pelo governo, foram colocados cientistas e intelectuais. Estes tinham as últimas reservas de alimentos, pois apenas eles poderiam encontrar a cura para o flagelo verde. Mas as populações destruíram muitos desses refúgios.

Olhando para o cenário devastador, o presidente do país onde fora criado o vírus P., tentava se levantar, mas estava em estado de choque. As forças lhe sumiram.

Tentou contatar outros Centros criados pelo mundo afora. Não conseguira. Nenhuma mensagem, por quaisquer meios conhecidos, retornara.

É o fim. Criamos nossa própria morte e de toda a vida no planeta.

A enorme tela à sua frente exibia imagens simultâneas de vários pontos do globo terrestre. Um planeta devastado. Sem vida. Sem qualquer chance de sobrevivência para os que ficaram no Centro. Embora as máquinas continuassem produzindo oxigênio, restara muito pouco alimento estocado...

Por quanto tempo agüentaremos até que também nos tornemos canibais e nos matemos uns aos outros, até o último de nós morrer faminto, louco e só?

Seus olhos fixaram o vazio.

O último traço de esperança morrera. Tomou a difícil decisão. Digitou suas senhas de acesso.

Laurinha olhava pela janela do Centro, sentindo falta das árvores, flores e colibris.

O presidente respirara fundo. Era preciso conter tanto sofrimento humano.

Hesitou por um momento, mas apertara o botão.

Milhares de bombas nucleares explodiram simultâneamente pela terra.

O fim veio rápido.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

O Medo Atrai Seu Próprio Infortúnio

by Ronaldo Souza


Em desespero, ele corria velozmente fugindo de seu algoz. A aterrorizante sombra de olhos rubros o perseguia. E era sempre mais rápida. Ele tentara em vão se esquivar, mas sentira novamente as garras daquele demônio o atingirem. No mesmo instante, um tremor torturara seu corpo e sua alma, e a dor dilacerara seus sentidos. Aos berros, acordara. Suava em bicas. Tremia e tinha medo, muito medo.

Era um pesadelo recorrente. No auge de sua vida profissional, em períodos de depressão, Marcos passara a ter pesadelos. A diabólica sombra, saída sabe-se lá de qual inferno degradante, o afligia insistentemente noite após noite.

Procurou padres, pais de santo, feiticeiros e bruxos. Nenhum deles conseguiu exorcizar tal aparição.

Ficara com medo de dormir. Passara noites em claro, evitando o sono, com receio de encontrar a infernal criatura. Mas um breve cochilo era o bastante para que aquela monstruosidade viesse afligir seu espírito.

Uma noite, em pleno sonho, antes que a negra sombra viesse ao seu encalço, lembrou-se de um episódio de sua infância. Sentira a cena como se a estivesse vivendo naquele momento:

Percebera mais uma vez o cachorro aproximar-se. Num rápido galope começou a correr e gritar em sua direção. O assustado animal, vítima de pedradas e perseguições alheias, disparara em retirada, temendo ser ferido.

Todos os dias em sua rua, observava aquele animal. Entre tantos vira-latas que passavam pela rua, aquele cinza estava sempre por perto, e parecia sempre pronto a fugir de qualquer um que se aproximasse, como se fosse vítima de grande medo da violência humana. Passou a persegui-lo diariamente, todas as vezes que o via próximo de sua casa. Dava o galope e o grito de sempre, e o animal fugia como se sua vida dependesse disto.

Um dia, entretanto, após correr atrás do animal, este reagira de forma estranha. Correra, afastando-se para longe, assustado e perseguido, com o rabo entre as pernas; mas se voltara várias vezes para trás, ganindo e latindo, num desgraçado lamúrio.

Entendeu então o sofrimento do animal. O que para ele era diversão, para o pobre cachorro era angústia e tormento. A partir daquele dia, deixou o vira-latas em paz. Nunca mais o afugentou.

A cena da infância abalou Marcos profundamente. Entendeu o seu significado. Tal qual o cachorro perseguido, era preciso que enfrentasse seu medo.

Ainda em sonho, se viu lúcido. E garantiu a si mesmo que era forte o bastante para enfrentar fosse o que fosse. Sentiu-se crescer, com a força de mil homens e o poder de um Deus. Naquele momento, era o herói de sua própria história, capaz de vencer o verdadeiro demônio se este aparecesse em sua frente.

Ao avistar os olhos rubros da sombra que sempre o perseguira, não hesitou:

“Hoje é minha vez, sombra dos infernos” - gritou a plenos pulmões – “vou matá-la de uma vez por todas” - gritou com tamanha intensidade, coragem e determinação, que a sombra, até então perseguidora, atemorizou-se e tornou-se perseguida, fugindo da presa que agora a caçava, numa ânsia de morte e vingança insuperada.

Marcos a perseguiu violentamente, mas não logrou êxito em alcançá-la. Sentiu-se vitorioso, contudo. Recuperou sua autoconfiança e seu sono.


A sombra? Marcos nunca mais a viu reaparecer em seus sonhos.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Um de meus contos será publicado pela Editora Andross no livro abaixo:

RÉQUIEM PARA O NATAL - CONTOS DE TERROR DE NATAL
Org. de Edson Rossatto

SINOPSE: Natal. Época de paz, amor e fraternidade. Mas não para você. Esqueça-se de tudo que seus pais lhe contaram quando criança e prepare-se para conhecer o lado negro do Natal em 53 histórias sobrenaturais, de suspense e de terror. Nada de amor e fraternidade. A única paz que encontrará aqui é a paz eterna. Atreva-se a abrir este presente.
Lançamento do Livro em 07/12/2008
das 17h00min às 20h00min
LOCAL: Espaço WN
Rua Jorge Augusto, 668 - Vila Matilde
São Paulo - SP
Os livros poderão ser adquiridos inicialmente no local do lançamento e no site da Editora Andross: www.andross.com.br, ou pessoalmente comigo (tenho apenas vinte exemplares)