terça-feira, 10 de agosto de 2010
Cyberpunk - Histórias de Um Futuro Extraordinário - Tarja Editorial.
quarta-feira, 27 de janeiro de 2010
Visões
sábado, 31 de outubro de 2009
Solarium 2
segunda-feira, 26 de outubro de 2009
Vídeo de Lançamento de solarium 2 - Contos de Ficção Científica
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terça-feira, 21 de abril de 2009
Reminiscências de um Mundo Verde

O primeiro anjo tocou a sua trombeta, e houve saraiva e fogo misturado com sangue, que foram lançados na terra; e foi queimada a terça parte da terra, a terça parte das árvores, e toda a erva verde. Apocalipse 8:7
E o resto das árvores da sua floresta será tão pouco que um menino as poderá contar. Isaías 10:19
Eu observava assustado aquele poderoso par de olhos que pareciam me atravessar e ler de forma clara e transparente toda minha história pessoal, meus erros, pecados, vergonhas e fracassos. Não havia como me esconder. Senti-me nu e envergonhado. Mas aqueles olhos se mantinham firmes, buscando até a última gota da verdade de minha história e da humanidade.
Parecia responsabilizar o exemplar que estava à sua frente por todos os erros da espécie. Senti medo. Meu corpo preparou-se para lutar, mas ao avaliar minhas possibilidades frente às suas garras, resolvi desistir. O seu olhar me pesava, forte e implacável, e senti que, se estava sendo julgado, nada tinha em minha defesa a apresentar, e logo seria condenado; pior, com quase toda certeza, executado.
Não esperei mais tempo. Corri. Feito um louco. Achando que poderia escapar e me por a salvo. Ledo engano. Ouvi o barulho das asas abrindo-se, e numa fração de segundos, ainda correndo, senti as garras em meus ombros e fui içado ao ar pela majestosa águia, que alçou vôo por altitudes para mim desconhecidas. Tentei me debater, mas um grito da ave me advertiu que, se caísse, seria morte certa. Resignado, mantive-me quieto. Enquanto estava no ar, pelo menos, me mantinha vivo.
Das estradas onde percorrem as nuvens e as águias, observei uma imensidão verde tal qual nunca antes avistara: um oceano de árvores por todos os lados, até onde a vista alcançava. De vez em quando, uma nuvem se postava em nosso caminho e nos cercava com suas brumas e gotículas; quando estava a se dissipar voltávamos a enxergar a paisagem. E ao longo do vôo fui vendo que o verde da terra era consumido de muitas formas, e em seu lugar, a terra ia sendo tomada por desertos e cidades humanas.
A águia deu um vôo rasante por cima de um pedaço de floresta, e quase se paralisou no ar para que eu pudesse assistir o que ali se passava: vi homens caçando e máquinas derrubando árvores às centenas; peixes boiando, mortos na superfície de rios e lagos, e após um precipício, sobrevoando o mar, vi manchas negras à superfície do oceano, contaminando as criaturas aquáticas. Voltamos à costa, e à medida que fomos avançando, os desertos aumentavam, e as cidades iam diminuindo, sendo abandonadas.
Deduzi que a águia estava voando sobre uma linha do tempo, rápida o bastante para podermos observar, em um instante, o que acontecera durante eras à paisagem do planeta. Pude ver então que poucos humanos restavam. Brumas vieram sobre nós e dificultaram nossa visão. A águia então mergulhou de volta a terra, tentando melhorar a possibilidade de enxergar a paisagem, o que conseguiu, e pude fitar, num imenso deserto, uma minúscula ilha verde, onde fui jogado. Vi-me cercado de árvores, e um grande silêncio reinava. Pensei estar a salvo num primeiro momento, mas enxerguei os olhos do tigre no meio da vegetação. Sim, eu tinha sido condenado pelos meus pecados e os de minha raça. Era por isto que a águia me atirara àquele lugar. Estava conformado. Morreria em paz.
Mas um minuto antes do tigre me alcançar, o irritante barulho de motoserras e tratores nos alcançaram, paralisando-nos.
Oh, não - pensei desesperado - não derrubem o bosque, não resta no planeta mais nenhuma área verde... mas árvores caíam por todos os lados, e por fim, se tornaram apenas um tapete verde sob nossos pés. Procurei pelo tigre e o avistei ao longe, correndo, fugindo pelo deserto.
Reparei que nas máquinas não havia pessoas. Eram máquinas-robôs. E agora avançavam em minha direção.

Horrorizado, acordei trêmulo, o suor escorrendo pelo corpo, o coração batendo num ritmo frenético. Levei horas para me acalmar. Passei dias apenas observando o horizonte e reavaliando meu mundo, minha vida e prioridades.
Eu observava meu jardim, ávido por admirar atentamente cada nuance das variadas cores das plantas e flores exóticas ali existentes.
Espécies oriundas de várias regiões do planeta foram cuidadosamente selecionadas para coexistirem em equilíbrio num mesmo ambiente. O resultado de tamanho esforço e minúcia dos biólogos contratados para criá-lo resultou em uma obra de extrema sensibilidade e rara beleza, até mesmo aos olhos dos mais insensíveis.
Uma deliciosa fragrância emanava pelo ambiente, produzindo relaxamento e bem-estar. Eu procurava aspirá-la e tornar este ato um momento sagrado. Fechava os olhos, sentindo meu espírito
O meu jardim é particular e privado. Além de mim, apenas pouquíssimas pessoas quando convidadas em ocasiões especiais têm a honra e o privilégio de contemplá-lo. Ainda assim, a uma distância segura e por poucos instantes. Não posso permitir que o toquem. Ele é para ser admirado. Nunca profanado. Não mesmo.
Muros o cercam e o protegem em todo seu espaço, no qual percorro os olhos em todas as direções. A hera avança, espalhando o verde pelo muro, como se espalhasse a vida.
Sempre contemplo o meu jardim. É meu belo lugar de descanso, de isolamento e reflexão. Durante estes poucos momentos de minha vida, é a parte que me pertence do mundo natural, é o que me sobrou para vivenciar.
É minúsculo, frente à imensidão das exuberantes florestas outrora existentes. Nelas sim, podia-se sentir a aventura de penetrar em um mundo vasto e desconhecido, onde surpresas poderiam nos aguardar a cada passo, onde tudo nos encantava, desde as árvores e flores, aos pássaros e animais, do azul esplendoroso do céu às águas cristalinas de fontes, rios e lagos. É o que me sobrou.
As grandes selvas assustavam até os mais corajosos, enchendo-os de temor. Temiam pelo desconhecido, pelo isolamento que elas proporcionavam, pelas surpresas e até mesmo pela morte que poderiam encontrar se não a respeitassem. Grandes animais carnívoros ou mesmo pequenos seres venenosos ali coexistiam e podiam causar encontros assustadores.
Para um explorador caminhando por horas ou dias, encontrar água também podia ser difícil. Embora rios e fontes fossem ali encontrados entremeados na extensão do verde, alguém poderia morrer de sede sem a encontrar. Somente os aventureiros mais experimentados a encontravam, ainda que dentro de plantas que a armazenavam...
As sagradas e gigantes florestas, berços de inúmeras e diversas formas de vida da Terra, tombaram pela ganância e indiferença humana. Aqueles bosques nos quais em meus sonhos, sou um explorador ávido, apaixonado e aventureiro, buscando cada nuance, como um amante tentando abarcar com o olhar toda a nudez e extensão da mulher amada, aquelas áreas verdes tão desejadas, não existem mais. Meus ancestrais as extinguiram, derrubando-as com serras e machados e queimando até a última das plantas, extinguindo seus seres, meus pequeninos conterrâneos de várias espécies, irracionais sim, mas parte da imensa teia da vida terrestre.
Secos ou envenenados, rios e lagos também se foram. Pouco restou: mesmo o ar que hoje respiro não é mais o ar fresco e vigoroso de outrora, mas enpesteado com a fumaça das indústrias, espalhando uma morte lenta e certa...
Observo o meu jardim: delicado e belo, precisa de proteção e cuidados quase diários.
Ontem, alguém poderia se isolar em uma mata. Hoje, é preciso isolar um pedacinho de verde, para que este sobreviva no meio da terra devastada, herança das muitas gerações passadas.
O meu jardim é meu recanto. Em sua pequenez é majestoso por lembrar o que foram os imensos aglomerados verdes do passado.
Hoje sou um homem rico, muito rico, e é apenas por isto que posso me dar ao luxo de ter um pequeno jardim. As plantas hoje são extremamente raras e caras, estão em extinção, são exóticas. As poucas espécies e exemplares existentes foram manipuladas geneticamente para salvá-las do extermínio, estão nas mãos do governo, de centros de pesquisa e de raríssimos abonados... como eu.
Meu jardim...
Posso tê-lo na palma de minha mão. Com um leve borrifo, uma tempestade agita toda sua superfície, inundando-a. Admiro-o mais uma vez em plena luz, agradeço ao criador sua beleza e perfeição, antes de trancá-lo.
Cuidadosamente insiro a pequena caixa de vidro em seu compartimento climatizado e iluminado artificialmente. Aciono os sensores automáticos.
Coloco minhas roupas especiais, as máscaras e protetores, ligo os filtros e conversores de oxigênio, e vou lá fora, no exterior, pois é mais um dia de trabalho e eu, mesmo sendo um homem privilegiado, volto à minha realidade...
sábado, 7 de fevereiro de 2009
Flagelo Verde

Laurinha olhara decepcionada para a janela ao acordar pela manhã. Sua violeta no parapeito da janela estava murchando e morrendo. Um dia antes, seus botões haviam desabrochado em lindas flores brancas contornadas por vermelho e salpicadas de lilás. Correu para chamar sua mãe. Tinha apenas seis anos. Não alcançava ainda o parapeito.
- Mamãe, mamãe. Coloca água na minha violeta... ela tá morrendo, tadinha.
A mãe viera em socorro da filha com um copo de água na mão:
- Mas eu coloquei água nela ontem...
Quando se aproximara do vasinho, no entanto, a mãe vira que a violeta estava já quase morta, mas o pote, ainda úmido. Intrigou-se. Porém, ficara perplexa quando, ao olhar através da janela que ficava de frente para o extenso jardim central da cidade, percebeu que todas as árvores morriam como a violeta em seu pote. Suas folhas se amarelaram e caíam; seus troncos enegrecidos vergavam sobre si mesmos, causando um macabro espetáculo.
Um clima tenso e irrespirável dominara o gabinete presidencial. Ali, em uma reunião secreta e convocada às pressas, se encontravam três homens de suma importância: O Presidente do país, o Ministro do Meio Ambiente e o Cientista de Pesquisas Governamentais.
- Então o vírus atinge apenas vegetais? – inquirira o presidente - Nenhuma outra criatura? Aves, insetos, peixes, mamíferos?
- Não, senhor – respondera o cientista – o vírus P. age apenas sobre organismos vegetais...
Uma visível expressão de alívio estampou-se no rosto do presidente.
- Então não chega a ser uma calamidade. Apenas algumas lavouras perdidas...
- Perdoe-me, senhor - retrucara o Ministro – mas a situação é muito mais grave. O vírus se alastra a uma velocidade espantosa. Ainda não encontramos uma cura.
Fez uma pausa, e depois continuou:
- A vida vegetal é a base da vida neste planeta. Sem ela, toda a escala de animais superiores irá perecer... inclusive....
O rosto do presidente voltara a assumir uma expressão grave e preocupada. Interrompeu bruscamente o ministro:
- Você está querendo dizer... – a cor fugira do seu rosto -...a humanidade.
- Sim, senhor. Não será apenas uma ou outra lavoura que será dizimada... mas todas as lavouras... todas as árvores, qualquer forma de vida vegetal... haverá fome sem precedentes...
- Temos nossos rebanhos...
- Eles serão os primeiros a sentir este efeito, e morrerão aos milhares...
O queixo do presidente perdera a rigidez. Sua boca se abrira num espanto mudo.
“Como pôde acontecer?” – pensara o Ministro.
A resposta veio em seus pensamentos: A ambição humana. Uma década atrás fora diagnosticado que cerca de quinze por cento de todas as lavouras eram perdidas pelo ingresso de ervas daninhas nas plantações.
Visando maior lucro, a indústria agrotécnica, apoiada pelo governo, encomendara aos cientistas a criação de um herbicida potente e inócuo ao meio ambiente. Não se queria que grupos de ecologistas saíssem em manifestações pelas ruas, a um enorme custo político.
Os cientistas pesquisaram não uma substância química, mas uma solução genética. O resultado fora o vírus P. capaz de se ligar à cadeia de genes de plantas invasoras e causar sua morte. Fora um sucesso. Foram colhidas safras recordes. Em algum momento, porém, ocorreram mutações. O vírus fugira ao controle. Adaptou-se, atacando qualquer espécie de planta que encontrasse. Tornou-se então um flagelo.
O ministro do meio ambiente e o cientista esperaram, constrangidos, até que o presidente absorvesse a catastrófica notícia que lhe tinham dado.
O presidente interfonou para seu assessor:
- Reúna todos os Ministros ainda hoje. – resmungou atônito - Convoque uma reunião com o congresso nacional. E uma coletiva com a imprensa.
-Há algo mais que queiram me dizer? – perguntou o presidente.
- Infelizmente sim, senhor. – disse o cientista.
- Pois, então digam.
- Esta catástrofe, senhor... não se limitará à fome... em algum momento... não teremos mais ar para respirar.
- Meu Deus! - exclamou abalado o presidente – Mas é claro! Sem árvores... sem oxigênio!
Levantou-se imediatamente, começou a andar de um lado para outro da sala.
- Quanto tempo temos?
O cientista começara a raciocinar. Este cálculo ele ainda não fizera.
Após imensas e sigilosas discussões políticas, um alerta por toda a nação fora lançado. Em breve tornou-se um alerta mundial. Cientistas de todo o mundo uniram-se.
Todo o esforço humano se voltara para o Projeto Vida Verde, a busca por um antídoto, uma cura para o vírus P..
Em sua casa, Laurinha ligara a TV. Os canais de TV transmitiam a extensão da tragédia. Nas praças, jardins e gramados, todo o verde desaparecera em poucos dias... Nas regiões silvestres, florestas inteiras se extinguiam. Nos oceanos, rios e lagos a tragédia era a mesma... com algas e plantas aquáticas. Sem plantas, morriam também pássaros, insetos, animais herbívoros. A terra tornara-se putrefata, com os restos mortais em decomposição...
A mãe de laurinha tentara sintonizar a TV em outra programação. Mas fora em vão... todos os canais exibiam a mesma reportagem...
A fome se espalhara rapidamente.
Animais carnívoros tornaram-se carniceiros e o homem não demorara a seguir seus passos....
Rapidamente surgira a idéia de enormes frigoríficos para aproveitar a carne dos animais. Isto daria uma chance de sobrevida aos humanos. Desde animais silvestres, até os rebanhos que foram previamente abatidos para que a carne não se perdesse, pois a fome tornaria os animais magros e descarnados até sua lenta e lastimável morte...
Cúpulas gigantescas de vidro foram erguidas para isolar áreas de florestas, tentando salvá-las, mas foram inúteis... o vírus facilmente as atravessara e eliminara as plantas ali isoladas.
Enormes usinas foram criadas a fim de produzir oxigênio artificialmente. Foram úteis, mas incapazes de suprir a necessidade humana. O ar logo se tornaria rarefeito.
Os alimentos foram sendo restringidos. No princípio, houve a distribuição de uma insuficiente cesta básica para cada família. Depois estas cestas foram suspensas. A fome se alastrara e junto com ela veio a loucura...
As pessoas brigavam por um pedaço qualquer de alimento. Roubo e morte tornaram-se fatos corriqueiros.
Populações inteiras tentavam desesperadamente conseguir algum alimento. Milhares morriam... todos famintos e desesperados. Muitos se mataram para escapar da fome. Outros passaram a ser caçadores... de sua própria espécie. Tornaram-se canibais.
Nos poucos centros criados e defendidos pelo governo, foram colocados cientistas e intelectuais. Estes tinham as últimas reservas de alimentos, pois apenas eles poderiam encontrar a cura para o flagelo verde. Mas as populações destruíram muitos desses refúgios.
Olhando para o cenário devastador, o presidente do país onde fora criado o vírus P., tentava se levantar, mas estava em estado de choque. As forças lhe sumiram.
Tentou contatar outros Centros criados pelo mundo afora. Não conseguira. Nenhuma mensagem, por quaisquer meios conhecidos, retornara.
É o fim. Criamos nossa própria morte e de toda a vida no planeta.
A enorme tela à sua frente exibia imagens simultâneas de vários pontos do globo terrestre. Um planeta devastado. Sem vida. Sem qualquer chance de sobrevivência para os que ficaram no Centro. Embora as máquinas continuassem produzindo oxigênio, restara muito pouco alimento estocado...
Por quanto tempo agüentaremos até que também nos tornemos canibais e nos matemos uns aos outros, até o último de nós morrer faminto, louco e só?
Seus olhos fixaram o vazio.
O último traço de esperança morrera. Tomou a difícil decisão. Digitou suas senhas de acesso.
Laurinha olhava pela janela do Centro, sentindo falta das árvores, flores e colibris.
O presidente respirara fundo. Era preciso conter tanto sofrimento humano.
Hesitou por um momento, mas apertara o botão.
Milhares de bombas nucleares explodiram simultâneamente pela terra.
O fim veio rápido.